O Perfil dos Alunos à saída da escolaridade obrigatória aponta para uma educação escolar em que os alunos desta “geração global” incorporam uma cultura de base humanista. Para tal, são invocados um conjunto de axiomas e competências que lhes vão permitir ser atores sociais de pleno direito, tomando decisões livres e fundamentadas sobre questões sociais e éticas de maneira cívica, consciente e responsável. Segundo o filósofo Espanhol Fernando Savater, a sociedade é um palco onde somos todos atores na construção de um enredo que é a nossa própria vida pessoal e social em democracia. Quanto mais educação, conhecimento, capacidade crítica e argumentativa os atores sociais tiverem melhor será o enredo. Os cidadãos devem saber que o que ocorre no palco social é algo que os implica, que lhes diz respeito, que lhes cabe a eles fazer. Fernando Savater considera que “nós, Cidadãos, estamos na plateia e estamos no palco, todos temos que participar da representação. Por isso a educação existe para formar Cidadãos capazes de intervir na representação. Até que ponto é importante a educação? Pensemos que a educação é tão importante quanto a confiança que depositamos nos outros” (Fernando Savater - A educação do cidadão no século XXI). Há uma frase de John Kenneth Galbraith, um economista Canadiano que trabalhou quase toda a vida em Harvard, que dizia: “As democracias contemporâneas vivem sob o temor permanente da influência dos ignorantes.” “A ignorância perigosa na democracia é a ignorância de quem é incapaz de entender um argumento alheio, é incapaz de entender um texto simples que apresente uma ideia importante. Ou seja, o ignorante é incapaz de persuadir os outros ou de ser persuadido pelos outros. Quem não é capaz de persuadir ou ser persuadido não está preparado para viver em democracia, este regime político baseia-se na persuasão mútua” (Fernando Savater - A educação do cidadão no século XXI). Não nascemos humanos, nascemos potencialmente humanos, a humanidade é uma “construção” social, a qualidade da vida pessoal e coletiva está radicalmente ligada a esta construção da humanidade que é feita na relação com os outros no palco social. O outro é um eu que não eu para quem eu sou o outro. Só quando adquirimos a capacidade de nos descentrar do nosso próprio ego e de nos colocarmos no lugar/perspetiva do outro o entendemos verdadeiramente. É nesta relação de encontro que radica a dignidade da humanidade, o outro potencia a minha verdadeira essência de ser em relação. O que fazemos, enquanto Família, Escola, Sociedade, na educação/formação das crianças e jovens determina o nível de humanidade que teremos nas gerações futuras. “Sem dúvida, ensinar é algo muito difícil e trabalhoso. E mais difícil se torna quando as condições atrapalham. Mas é preciso que o exercício de ensinar permaneça vinculado ao intento de promover as condições necessárias para, transcendendo o instruir e o adestrar, auxiliar o encontro da inteligência do educando com a vida, o encontro da sua sensibilidade com a pluralidade rica do viver” (MORAIS, 1986, p. 6). Penso que é isto que devemos aspirar enquanto Sociedade, a construção de atores sociais com uma matriz humanista, para a efetiva pluralidade rica e inclusiva do viver uns com os outros.