Cabe à escola, na sua missão de formação equitativa e inclusiva, ser fonte de valores e de aprendizagem para todos. Tal missão sempre foi, e sempre será, um desafio, tendo em conta a heterogeneidade de fatores que fazem de cada membro um ser com características únicas. À complexidade permanente da missão educativa, acresce, atualmente, a necessidade de encontrar estratégias para integrar os alunos imigrantes, que requerem uma especial atenção. A sala de aula atual é um espaço multifacetado e multicultural, em constante mutação e, por isso mesmo, em permanente ajuste. Ora, se bem que o reconhecimento dessa missão seja claro para os membros da comunidade educativa e ainda que as escolas contem já com um enquadramento que preveja medidas facilitadoras de inclusão, são ainda insuficientes os recursos humanos, materiais e tecnológicos. Não nos será difícil, face à nossa larga experiência migratória, colocar-nos no lugar dos alunos que chegam a uma escola onde tudo é novo: espaço, professores, colegas, organização curricular e, para muitos, claro, a própria língua. Recordo-me bem, sendo eu própria filha de emigrantes, recém-chegada à Suíça, dizer um dia à minha mãe: “Não vou mais para a escola, mãe! Ninguém me entende e eu não os entendo a eles!”. Dizem que os tempos difíceis geram gente forte… De coração apertado face à minha angústia, a minha mãe levou-me à escola, afirmando que não ir não era opção, que tudo ia passar, que eu ultrapassaria os obstáculos! Hoje, nos apoios de Português Língua Não Materna, a primeira coisa que digo aos meus alunos é que vai correr tudo bem, que as dificuldades se vão esbater, que são mais fortes do que imaginam. Têm de ser realmente fortes… O desafio é exigente. O ensino de Português Língua Não Materna (PLNM) constitui uma das medidas de integração desses alunos no sistema educativo português. Destina-se a alunos vindos do estrangeiro com língua materna que não é nenhuma das variedades do português; filhos de emigrantes portugueses; com crioulo/língua africana como língua materna ou de comunicação. O enquadramento legislativo de PLNM prevê a diferenciação pedagógica. Mas, na prática, como criar grupos de alunos com este enquadramento, aquando da formação de turmas, quando, nessa altura, não se sabe quantos alunos estrangeiros irão frequentar a escola e em que nível de proficiência linguística irão ser incluídos. Na prática, como ensinar, simultaneamente, alunos que estão a aprender a falar português e outros que já se preparam para realizar exames nacionais? Na prática, urge reduzir o número de alunos das turmas com alunos de PLNM, para que os professores de todas as disciplinas possam acompanhá-los, de um modo mais individualizado. Urge dotar as escolas de mais recursos humanos e de materiais atualizados para o ensino de PLNM, nomeadamente para apoio às outras disciplinas do currículo.
O desafio é exigente. Haja meios suficientes para acolher e integrar devidamente…