Visita de estudo ao Porto com os 11.º anos no âmbito das disciplinas de Geografia, Filosofia e História A, 7 e 10 de março. Não é que as do passado fossem de estudo, mas eram visitas. Viajava-se pouco, não havia tantas autoestradas e a mobilidade eram mais lentas. Poderia haver um relatório, minoritário, a descrever ou relatar o que se via. Mais nada. Mas o mais importante era mesmo a visita, ou a alegria da ocorrência, sempre feita de curiosidade, de espectativa, de alegria, de música, de cantares e, sim, de estridência. Contudo, hoje, a única estridência, ou alegre disposição se entenderem, foi mesmo a do guia. Intencionalmente de branco, qual homem das neves, gesticulava, volteava e exprimia-se enfática e alegremente. Barroco, granito, muralhas e formas acastelares, foram palavras mais ouvidas e corridas, junto à serra do Pilar. Não sei se atónitos, relaxados ou indiferentes, calcorreamos ruelas e calçadas, da serra do Pilar à Ribeira, por pedras escorregadias e gastas, sem lampiões tristes e sós. E foi nesse ar, nem grave nem sério, que os jovens pardacentos, se aproximaram do mistério, com a luz bela e sombria. Contemplaram a altivez na distante Torre dos Clérigos, no velho casario, na estação de São Bento, nos azulejos de história carregados e na Reguladora que ousou marcar-lhes o passo. Foi, então, como milhafres feridos na asa que demos o salto para a modernidade: café Majestic, Santa Catarina, Serralves e outros apalaçados arrabaldes. Pedimos Paula Rego ou Joana Vasconcelos e deram-nos A máquina que nos olha, de Avery Singer. A arte, há muito tempo, deixou o território do belo e reflete, atualmente, o ritmo frenético da vida quotidiana. Parece que a artista, após traumática experiência, agarrou o mundo digital e quis falar dos olhares sombrios, da enganadora internet das coisas e mesmo das criptomoedas. Senti-me concetualmente perdido. Mas faltava o murro no estômago dos documentários sobre as crianças em situações de guerra, acompanhados de música de sofrimento e terror. Os jogos e brincadeiras infantis eram tão puros e pueris como as nossas remotas infâncias. Mas o som das balas, tão violentamente repentino, provocou-nos um sobressalto. Acho que, apesar de sentirmos que poderia haver mais para mostrar, preferimos refugiarmo-nos nos jardins, molhados e transidos de frio, num jeito fechado, como quem mói o sentimento. E assim regressamos a casa, com altivez e humildade, agradecendo não sei a quem, a linda vida que nos acontece.