O termo “utopia” foi criado pelo inglês Thomas More no século XVI para intitular um romance filosófico. Este termo significa: um lugar que não existe na realidade, algo idealizado. O termo “utopia” como apelo a algo idealizado que não existe na realidade, uma sociedade imaginária que possuiria qualidades de organização política e social altamente desejáveis ou quase perfeita para os seus cidadãos. Quando me é proposto refletir sobre o conceito de “Cidade Educadora”, com tudo que tal conceção implica, apetece-me proferir o termo “utopia”. Teremos de idealizar uma organização/construção das cidades e das consciências radicalmente diferente da realidade atual. O primeiro passo para atingir algo será sempre idealizarmos utopicamente o que queremos coletivamente para o futuro, neste sentido estamos no bom caminho. "É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança", este é um provérbio africano sobejamente conhecido que propõe o conceito de Cidade Educadora, nele está explicita a ideia de que nenhuma pessoa aprende e se desenvolve sozinha ou em pequenos grupos. A ideia da “aldeia inteira”, de uma comunidade que não só cuida e protege, mas se organiza estruturalmente e intencionalmente para educar, para transmitir valores, contém em si a própria semente da humanidade. O conceito de Cidade Educadora nasceu em Barcelona nos anos noventa do século passado e assenta na ideia de que a cidade é um agente educador. Todos os espaços da cidade e todos os eventos por ela promovidos devem ter uma matriz educadora, promovendo a formação de cidadãos livres, responsáveis e capazes de viver num mundo multicultural. “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si (…).” (FREIRE, 2005:79). Esta conceção de Freire remete para a educação como algo que implica responsabilidade coletiva de matriz social. A ideia de Cidade Educadora remete para o entendimento da cidade/espaço público e privado como território educativo. Os diferentes espaços e atores deste território são compreendidos como agentes educativos, que podem, ao assumirem uma intencionalidade educativa pensada e estruturada, garantir o processo de formação continua numa educação formal e não formal. Esta ideia das Cidades pensadas essencialmente como territórios educativos, onde a educação dos cidadãos passa a ser responsabilidade partilhada por todos, leva à conceção das Cidades Educadoras como estruturas sociais que têm na sua base, na sua matriz, o desenvolvimento humano e social. Esta conceção de organização social é radicalmente humanista, colocando no centro das suas preocupações a construção de seres humanos conscientes, livres, responsáveis, atentos e críticos. Estas Cidades Educativas formam um círculo virtuoso, o fim último de qualquer organização social é criar condições para que os seus cidadãos se realizem, desenvolvendo as suas potencialidades e sejam felizes. Quanto mais felizes individualmente mais forte será o todo social. A conceção de Cidadão que emana do “Perfil do Aluno à saída da Escolaridade Obrigatória” (PASEO) está bem expressa, no seu prefácio elaborado por Guilherme d’Oliveira Martins, que diz o seguinte: “(…) A referência a um perfil que pressuponha a liberdade, a responsabilidade, a valorização do trabalho, a consciência de si próprio, a inserção familiar e comunitária e a participação na sociedade que nos rodeia. (…) importa criar condições de equilíbrio entre o conhecimento, a compreensão, a criatividade e o sentido crítico. Trata-se de formar pessoas autónomas e responsáveis e cidadãos ativos (…).” Penso que esta conceção de formação de cidadãos é uma magnifica utopia, mas uma responsabilidade excessiva para ser atribuída só à Escola. A consecução desta utopia implica a criação efetiva de Cidades Educativas e, na minha opinião, algo mais abrangente, refiro-me ao conceito mais lato de sociedade, onde se promovam e difundam os valores que estão inscritos no PASEO e não valores conflituantes com estes. Para que esta utopia seja concretizada será necessário conferir à educação uma centralidade nas políticas e nas ações, pois aprender a viver em conjunto é uma utopia necessária e urgente.
Reflexão feita pelo professor do AEG - Carlos Fernandes (grupo 910)