A formação de indivíduos que sejam autónomos, críticos, interventivos e criativos
08 / mai / 2024
"Numa época em que se quer, e é necessária, uma nova forma de preparar os alunos para o futuro, é importante destacar o importante trabalho que os professores têm desenvolvido ao longo dos tempos, perseguindo continuamente esse mesmo objetivo. A verdade é que os professores têm dado a resposta possível, e ainda assim adequada, às solicitações que o sistema e a sociedade lhes têm pedido. Por exemplo: transformou-se uma sociedade em regra analfabeta, numa sociedade cuja escolaridade obrigatória é de 12 anos e melhoraram-se continuamente as taxas de sucesso, acomodando as sucessivas e contínuas alterações legislativas e acolhendo vagas de alunos de origens sócio-económico-culturais muito diversificadas. Os professores têm feito um esforço contínuo para melhorar a qualidade do serviço prestado, lutando contra a desvalorização da sua própria condição profissional e apesar dos contextos sociais, muitas vezes desfavoráveis, em que desenvolvem o seu trabalho ou da falta de condições de muitas escolas. Na continuidade desse trabalho, surgiram os desafios apresentados com o Perfil do Aluno e o definido no decreto-lei 54/2018 (que implica uma resposta mais personalizada para as dificuldades de cada aluno) e decreto-lei 55/2018 (que abre várias possibilidades de ajustamento curricular para contextualizar o processo de aprendizagem), que não foram surpresa para muitos professores, que, atentos às mudanças vertiginosas a que está sujeita a nossa sociedade, já haviam percebido que o ensino escolástico, centrado na transmissão de saberes, já deixou de fazer sentido há muito tempo e já vêm implementando metodologias mais ativas, centradas na aprendizagem e no trabalho do aluno, dentro das limitações que constrangimentos curriculares, organizativos e condições físicas têm imposto. No entanto, creio que se chegou ao ponto de rutura em que precisamos de ser todos, em particular os professores (e nenhum pode ficar para trás), mas também o resto da sociedade, incluindo pais e ensino superior, a perceber que, cruzando educação, cultura e ciência, saber e saber fazer, temos que nos focar na formação de indivíduos que, nestas condições de diversidade do mundo, de mudança constante e de incerteza do amanhã, sejam autónomos e críticos, capazes de recolher e analisar informação e, com ela construir, de produzir novo conhecimento, sendo criativos e interventivos. O mundo está em acelerada transformação e o que hoje é verdade amanhã já deixará de o ser, em função das novas descobertas, e as profissões de hoje deixarão de ser necessárias amanhã e outras, com que ainda não sonhámos, tornar-se-ão uma realidade. Estes nossos alunos de hoje terão que estar preparados para se adaptarem a estas mudanças e terão que perceber que a permanente atualização da sua formação será um processo determinante para o sucesso do seu projeto de vida. Por isso e apesar de ser pedido aos professores, mais uma vez, que sejam líderes na implementação de processos para os quais não estão criadas as condições adequadas e necessárias à sua concretização (faltam docentes, técnicos superiores, pessoal não docente, faltam redes e equipamentos informáticos atualizados, faltam mobiliários de organização flexível, faltam …), penso que também não se pode estar à espera que essas sejam proporcionadas, sob pena de se colocar em causa o papel da escola e da sua necessidade na sociedade. A verdade é que, se se mantiver uma escola cujo papel é centrado na transmissão de conhecimentos, a mesma estará condenada ao desaparecimento, face à evolução desses mesmos conhecimentos e à facilidade e multiplicidade de acesso aos mesmos de muitas outras formas. Assim, é necessário que, não deixando de reivindicar as condições necessárias para a realização do trabalho das escolas, se invista colaborativa e profissionalmente na construção de um processo que conduza à formação de cidadãos com as soft skills necessárias a este novo mundo (por ex.: organização, flexibilidade, colaboração, comunicação eficaz, pensamento crítico, criatividade, iniciativa, liderança,...), que valorizem o respeito pela dignidade humana, pelo exercício da cidadania plena, pela solidariedade para com os outros, pela diversidade cultural e pelo debate democrático, para além da sua formação técnico-científica." Jones Maciel, docente do Agrupamento de Escolas de Gondifelos